E quem não quer? Todos gostam de ganhar. Ganhar qualquer coisa. Rifa, sorteio e desconto. Queremos ganhar, seja movido por sentimentos mesquinhos de alcançar vantagens, triunfando sobre os demais, seja para sentir-se amado, aplacando os fantasmas da rejeição ou do infortúnio sentimental ou emocional.
Particularmente, eu amo ganhar! Sou um ser humano previsível...
Em minha infância pobre ganhei poucos presentes e sou capaz de enumerar tudo o que ganhei de relevante entre zero e sete anos: Velocípede aos dois, bola aos quatro, revólver usado de espoleta aos seis, bicicleta grande demais para meu tamanho aos sete (assim meu pai pensou que eu poderia usá-la por mais anos). Sim, teve também um tênis com meias! Lindo, azul e branco, aos cinco anos de idade. Fiquei feliz demais com cada um daqueles presentes que tinham em comum o fato de todos eles terem sido presentes não de aniversário, mas de Natal. Eu ganhava presentes somente no Natal.
Esta semana encontramos na caixa de correios de nossa pequenina igreja uma carta de uma garota de cinco a seis anos de idade. Nesta carta ela pede presentes de Natal. Será que ela pensa que papai-noel mora lá com a gente, ou que papai-noel é o Pai de Jesus? Não sei o que passa na cabeça dela. Ela mora num bairro bem distante de nossa igreja e não faço idéia de como ela se deslocou até lá pra colocar aquela carta. Ela pede coisas nobres, as quais não me lembro com clareza agora, mas são uns sete ítens. Ela deve ser inteligente, já que é melhor pedir a mais, pois mesmo que “Papai-Noel” não dê tudo, ao menos alguns itens chegarão a ela. Entre presentes como um par de sapatos, roupas e coisas do gênero, um presente me chamou atenção: Uma Cesta de Natal! Segundo ela, sua família nunca teve uma ceia de Natal. Não é de se admirar, em minhas memórias, ceia de Natal é algo recente em minha vida, certamente posterior à infância. Seu nome é Chalene.
O bairro onde a garota mora é um subúrbio pobre (hoje é mais politicamente correto dizer que é um bairro de classe C/D). Certamente que ele tem uma TV bem grande e colorida onde as estupidamente prematuras propagandas natalinas apresentam famílias brancas sorridentes ao redor de mesas fartas, com Peru, Chester e Tender. Certamente ela não sabe o que é um Chester ou Tender. Eu gosto de Peru assado, é um frangão “danado de chique”, mas eu nunca vi um Tender de perto: Que bicho é este? Tender é mamífero? É bípede? Tem pelagem ou penugem? As fotos de Tender nas propagandas da TV ou na internet só mostram este bicho já assado, nunca vivo... Tender é uma fantasia comercial...
Assim é o Natal já há mais de um século: Uma fantasia! Comemos bichos que não existem na fauna. Sorrimos sorrisos obrigatórios em nome de um tal “espírito de Natal” (que nenhum pai-de-santo jamais o incorporou). Até fingimos ser bonzinhos, dando presentes aos pobres que são por nós lembrados somente nos meses que começam com a letra “D”. Até cartinha de pobre é recebida com alegria e o desejo de poder ajudar invade nossas pesadas consciências, tirando das nossas costas o peso da culpa de ter demais.
Vamos visitar esta garota pra levar os presentes pessoalmente. Acho que ela ficará muito feliz e espero que, além de alegria, a gente não leve também pra ela a certeza de que não é necessário estudar e trabalhar para ganhar coisas ou vencer da vida, já que bastou pedir pras igrejas e pro governo.
Vou ter que contar pra garota que apesar de ela ter querido enviar sua carta pro papai-noel, ela colocou na caixa de correio da casa do “papai-do-céu” e, portanto, é este último que está atendendo seu pedido. Ao contrário do fantasioso Natal comercial que a mídia mostra, vou contar verdades sobre o Natal pra ela. Contarei que eu também não tive ceia de natal na infância, mas que este mesmo papai-do-céu me presenteou com braços e pernas para poder trabalhar e construir, com a indispensável ajuda Dele, um futuro digno e que com fé no papai-do-céu, estudo e trabalho ela também poderá, no futuro, dar ceias de natal para seus filhos e ainda para outros.
E você? O que quer ganhar neste Natal? Peço ao papai-do-céu que atenda aos seus pedidos, mas um pedido especial eu farei a Deus por todos nós: que alcancemos a consciência que os pobres, as viúvas, os órfãos e os presos não sentem fome e frio apenas nos meses que começam coma letra “D”.
Feliz Natal!
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E com relação ao lindíssimo filme publicitário abaixo... Sem comentários!
ARO REVERENDO, CONCORDO COM VC A FESTA DO NATAL ERA PRA SER UMA FESTA CRISTÃ SE TORNOU UMA FESTA PAGÃ~ONDE OS PROPIOS INTERESSES FALA MAIS ALTO O BRIGADO POR LER MEUS IMAILS DESEJO PRA VC E SUA FAMILIA UM FELIZ ANO NOVO ABRAÇO
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