Não é raro encontrarmos alguém que tem dificuldade de aceitar o perdão gratuito de Deus. Não apenas entre as pessoas comuns, mas também entre os discípulos de Jesus. Como seguidores de Jesus, entendemos que a Bíblia nos fala sobre um perdão gratuito, disponível, perpétuo e todos os demais adjetivos que podem ser resumidos na palavra “graça”. A graça nos salva. A graça nos dá a vida eterna. Somos salvos não pelo que nós somos, mas pelo que ELE é!
Não temos dificuldade de pregar isto, mas muitos não crêem muito nesta estória. Os não-cristãos ou cristãos nominais nos dizem:
“Isto não é possível! Isto não é 'justo'. Quem matou uma criança inocente não merece perdão. Um estuprador não merece perdão. Aliás, aquele meu ex-namorado também não merece perdão, pois ele foi um cachorro comigo. Digo mais, minha ex-patroa era tão imbecil que ninguém poderia perdoá-la; se há justiça, estas pessoas sofrerão o que fizeram outros sofrer”.
O senso de justiça do ser-humano natural é mosaico: “olho por olho, dente por dente”. "Perdão? Só depois que pagar a dívida moral, emocional, financeira, etc."
Com Deus não é assim. Cristo diz ao pior dos marginais que está sendo com ele crucificado: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso!” O que aquele marginal fez para merecer o paraíso? Apenas creu em Cristo e pediu arrego humildemente. Com arrogância não há perdão. Se eu me reconheço como uma pessoa justa, não preciso do perdão de Deus, pois eu mesmo já me absolvi. Se reconheço que, na verdade, no fundo do meu coração, sou mal e clamo por perdão, ele vem de Graça.
Mas, a exemplo do senso comum, muitos de nós, que temos tentado ser seguidores de Cristo, também não entendemos este perdão gratuito. Conheço muitos cristãos que não têm certeza que Deus realmente os tem perdoado. O discurso é dissonante da prática. Pregam perdão gratuito, mas por dentro são consumidos pela culpa, que em Cristo não deveria mais existir. Esta culpa deixa a pessoa doente na alma, pois passa a se odiar, pensa não ser merecedora da aceitação de Deus, de outros e rejeita-se. Não conseguem crer que a Graça seja maior que seus pecados, medos, erros e misérias. Pessoas que conhecem seus pecados secretos e pensam que aquilo não é perdoável. Se há um sentimento que o verdadeiro discípulo não deve carregar é o da culpa. Mas, porque alguns não aceitam o perdão gratuito?
Não aceitam o perdão gratuito porque não perdoam gratuitamente!
Querem se vingar de quem os faz sofrer. Não acreditam em perdõ gratuito:
"Deus não nos perdoa gratuitamente. Ele também quer vingança. Talvez ele me mande pro inferno... Aliás, muitas vezes desejo que Deus mande muitas pessoas que estão próximas a mim para o inferno."
As motivações: Inveja, rancor, mágoa, insegurança...
Sartre, ao ler a alma humana, traduziu este sentimento dizendo o seguinte: "O inferno é o outro".
O outro me deixa no inferno, por isso, quero vingança!
E quem são eles? Às vezes, eles são nós mesmos... Assim, não conseguimos liberar o perdão para aqueles que nos fizeram sofrer no passado e num processo de transferência, imaginamos que também não somos perdoados por Deus.
Criamos um Deus vingativo em nossas mentes.
Queremos agradar a Deus para "merecermos" perdão e salvação.
Damos dízimo por medo.
Vamos à igreja para dizermos a Deus e a nós mesmos: "Viu, não sou tão mal assim!"
Barganhas.
Olho-por-olho.
Merecimentos.
Criamos nosso padrão humano de justiça e encaixotamos Deus dentro de nossas crenças. Infelizmente a teologia católico-romana não ajudou muito nesta seara...
Muitas vezes guardamos mágoas.
Mágoas dos pais que se separaram.
Mágoa da mãe que não foi tão presente.
Mágoa da infância, pois não foi cheia de mimos.
Rancor do ex.
Rancor por escolhas feitas por outros em nosso nome.
Assim vamos colecionando ódio, tristeza, mágoa e rancor de pessoas e instituições.
Sede confidencial de vingança. Não conseguindo perdoar as pessoas que nos fizeram sofrer: “São pessoas imperdoáveis, pois eu não sou um Jesus Cristo”.
Se não soubermos perdoar, não saberemos ser perdoados.
O perdão de Deus nos confronta: Se Deus me aceita como eu sou, porque não posso aceitar o outro com suas limitações e mazelas, como ele é?
Mas, na verdade, achamos que o outro é sempre pior que nós.
Certa vez uma pessoa muito próxima me fez sofrer demais, por meses e meses, pois me enviou um e-mail falando "francamente" sobre todos os meus defeitos, limitações e falhas de caráter. Foi uma carta do inferno. Tal pessoa tinha mágoas comigo por eu ser quem eu era e como eu era. Enfim, eu não havia suprido as suas expectativas irreais e leveu eu a culpa por ser como sou. Claro, jamais escrevi de volta fazendo a mesma catarse emocional e expondo também as suas mazelas humanas, conforme meu ponto de vista e expectativas frustradas. Isto teria sido, além de cruel demais, uma clara falta de perdão e de aceitação do outro como o outro é!
Devemos aprender a perdoar e devemos aceitar o perdão de Deus.
Não é sensato carregar nas costas cargas que Jesus já retirou na cruz.
Não é sensato não liberar perdão para alguém que Deus já perdoou.
Não se esqueça: Deus ama os seus inimigos!
A pessoa culpada é uma psicopata. Não aceita o perdão de Deus e não perdoa com facilidade. Aliás, culpa a todos, culpa o mundo. Culpa até Deus pelo livre arbítrio recebido. Sim, pois tais indivíduos fazem escolhas erradas na vida e precisam de culpados – pais, cônjuges, governo – e não encontrando culpado, encontram-no em Deus e dizem: “Deus, como você pode?!”. Se eu sou culpado é porque alguém foi culpado primeiro, pensam. Compartilham o seu sentimento de culpa culpando a todos.
Ao contrário, quem aceita a “graciosa graça” perdoadora, ao aceitar o perdão, a todos perdoa. Assim, e somente assim poderemos continuar caminhando e orando o “Pai Nosso” como Jesus nos ensinou: “Senhor, perdoa os meus pecados, ofensas e dívidas, da mesma forma que eu tenho perdoado quem me ofende, me deve ou tem pecado contra mim...”
Com base em sentimentos vingativos de “olho-por-olho”, não precisamos esperar qualquer perdão.
Recebemos perdão de graça. Perdoemos gratuitamente.
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Ao contrário do que faço costumeiramente, o filme abaixo não é nada cômico, na verdade, é um atragédia que visa conscientizar os motoristas da importância de se dirigir com muita atenção ("Não digite ao dirigir" seria o título em tradução livre).
Pergunto-me:
- Esta moça conseguiu perdoar-se?
- Seus pais a perdoarama?
- Os pais de se suas amigas a perdoaram? A que custo?
- A sociedade a perdoou?
- E a justiça comum?
- E Deus, a perdoou?
Velho,
ResponderExcluirNão creio em Deus, Saci Pererê e outras bobagens.
Ainda assim pratico o bem, o perdão e a paz e não espero nada em troca.
Tudo roda.
Tudo muda.
O aparente morto, aduba!
Felicidades,
Pipo.